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Médico do Esporte e do Trabalho. Mestre em ergonomia. MBA em Gestão Executiva de Saúde

domingo, 3 de maio de 2009

O Dia do Trabalho para o Médico do Trabalho

Na comemoração do Dia do Trabalho, que para um Médico do Trabalho é uma data muito representativa pois nos leva a uma reflexão consistente sobre as condições de trabalho e a necessidade de se buscar uma equidade das condições e maior valorização humana.
Infelizmente, ainda hoje temos uma disparidade muito grande entre os grandes centros e grandes empresas, com outras praças e empresas de menor porte, mas pouco tem sido feito para se mudar esta situação.
O Médico do Trabalho é um agente fundamental para colaborar nesta mudança, contudo ainda não se organizou suficientemente para apresentar um resultado mais expressivo e sistemico.
Suas ações ainda são muito pontuais e em determinados nichos onde tem a oportunidade de trabalhar isoladamente ou ainda com o apoio da sua associação, tem promovido melhorias importantes mas pouco difundidas ou valorizadas.

A visão social de nós profissionais ainda é muito unidirecional, focalizada somente no ambiente em que estamos trabalhando, estendendo-se um pouco mais para a sociedade mantemos contato. As fronteiras pouco são rompidas e pouco vizualidas, e sendo desconhecidas certamente caem no esquecimento.
A tendência em geral é de se buscar soluções para problemas de classes que tem como se pagar pelas melhorias e que permitem um maior reconhecimento, mesmo que estes não sejam os problemas da maioria, mas com poder econômico para ser solucionado.
Ainda não encontramos um caminho mais justo, talvez porque não o conhecemos, ou porque não estamos organizados para tal, entretanto eu acredito que se organizada uma mobilização estruturada através de uma associação direcionada para este fim, encontraremos muitos colegas dispostos a participar deste movimento de forma voluntária.

Em anexo no inicial deste texto esta uma foto de um fotógrafo brasileiro extremamente reconhecido - Sebastião Salgado- que editou um livro somente com fotos que fez sobre as condições miseráveis de trabalho pelo mundo, aliás fantástico este e o recomendo a todos, pois através destas fotos, ele fez muito mais que organizações especificamente voltadas para isto pouco fizeram, e na foto apresentada encontramos um trabalhador em dificuldade respiratória devido à inalação do enxofre encontrado no vulcão da Ilha de Java, que ele levas as pedras dentro de uma cesta nas costas durante uma caminhada de mais de 6 km. Esta atividade é tão desgastante que ele tem que descansar por dois dias para poder realizá-la de novo. Triste não!
Bem, para não me estender demais e ser repetitivo, postei um artigo escrito por um colega Ortopedista - Dr Teri Guérios, sobre as doenças músculo esqueléticas provenientes de condições ergonômicas inadequadas de trabalho, atualmente as doenças mais comuns relacionadas ao trabalho e que tenho certeza que será de bom grado`aqueles que se dispuserem a lê-la.
Paulo Zétola

Boa leitura !!

L.E.R ou DORT - Texto do Dr Teri Guérios

Desde os anos 70 se têm relatos de distúrbios músculo-esqueléticos realcionados a atividades de trabalho. Nos anos 80, ficou famosa em toda a literatura médica a chamada “Epidemia da Austrália”, onde grande percentual da população economicamente ativa daquele país padeceu de transtornos músculo-esqueléticos relacionados à profissão, o que consolidou o nome Lesão por Esforço Repetitivo (L.E.R.).
Este diagnóstico com mais de 30 anos, infelizmente ainda é comumente dado a alguns pacientes. Tornou-se um problema de saúde pública e do trbalho na medida em que a L.E.R. é alegadamente “adquirida” no trabalho.
O conceito é oriundo da década de 70/80 do século passado, fruto do não entendimento do porque, em alguns trabalhadores submetidos a esforços de repetição, desenvolviam quadro doloroso no segmento relacionado a este esforço, geralmente os membros superiores. Não se tendo uma explicação detectável, a causa mais óbvia relacionada era que o esforço mecânico imprimido a um determinado segmento de maneira continuada, poderia levar a lesôes tendinosas e/ou musculares e estas cronificariam, se transformando em quadros secundários mais complexos e sintomáticos que o inicial. Ou seja, na falta de conhecimento bioquímico e médico diferente, a explicação mais mecanicista e positivista possível prevaleceu. E pior, imperou, e ainda, em alguns nichos médicos, impera.
Mas o conhecimento melhor da fisiopatologia da dor, do porque que ela cronifica em uns (e até pode evoluir para outras alterações) e em outros, com o mesmo quadro, conseguem a resolução submetidos ao mesmo tratamento, sempre foi motivo que intrigou até os mais ferrenhos crentes na explicação vigente à época. A explicação que se tinha incomodava e gerava uma série de dificuldades médicas e judiciais, principalmente pela alegação da invalidez de determinado trabalhador ser causada por suposta L.E.R. que foi “adquirida” no ambiente de trabalho. Ou seja, a empresa, quem dispunha do trabalho a este empregado era a causadora indireta.
Hoje sabe-se que a cronicidade de um quadro agudo de dor, e sua evolução para uma situação antes chamada de L.E.R., está relacionado muito mais a fatores biológicos e bioquímicos individuais, e às vezes temperado com agravantes, que geralmente pioram a situação, psíquicos e sociais.
De maneira esquemática, pode-se definir os distúrbios esqueléticos que evoluem com a atividade profissional, sempre, como a somatória de uma lesão causada por esforço (por exemplo, uma tendinite de punho), mas que maiormente se resolvem com tratamento. Mas, em um determinado indivíduo, esta lesão inicial NÃO se resolve como nos outros tantos, e mais, pode evoluir com quadros de Distrofia Simpático Reflexa, neurose depressiva, distúrbios gastro-intestinais e do sono (dor crônica levando a disability). E esta evolução é fruto EXCLUSIVAMENTE da constituição individual, visto em outros, submetidos ao mesmo trabalho e acometidos da mesma tendinite (neste exemplo anterior usado) conseguir-se a resolução.
Hoje, o nome mais apropriado a estes quadros seria Síndrome Dolorosa Crônica. Este diagnóstico deve ser entendido como que evoluido em indivíduo predisposto (nem todos os elemento desta predisposição apresentam, ainda, elucidação) submetido a um distúrbio desencadeador, podendo este ser uma tendinite (como no exemplo acima), por exemplo. Mas este desencadeamento ocorreria em qualquer atividade a que este indivíduo em questão se colocasse a realizar no ambiente de trabalho, qualquer tipo de atividade ocupacional braçal. A relação causa-efeito, tão importante para o encaixe no positivismo jurídico, deste quadro como Doença Ocupacional, simplesmente não é possível. Esta impossibilidade se faz sob todo e qualquer prisma em que se avalie, seja ele médico, biológico, social, psíquico, jurídico, etc.

Teri Roberto Guérios
articulare@matrix.com.br
http://www.filosofar-comigo.blogspot.com/

O autor do texto acima não é médico sanitarista ou do trabalho, mas ortopedista e perito da justiça federal de Blumenau.

Um comentário:

  1. O teu texto, além de belo, foi maravilhosamente ilustrado. Parabéns.
    Já o meu, além de belo é maravilhoso (rsrsrsrs)
    Obrigado por pô-lo aqui

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